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Inclusão racial nas empresas: avanços e desafios no mercado atual

Escrito por Guilherme Dias | Gupy | 05/11/2025

A inclusão racial nas empresas é o conjunto de ações e políticas voltadas para garantir igualdade de oportunidades e tratamento entre pessoas de diferentes raças e etnias no ambiente de trabalho. O tema é urgente no Brasil, onde mais da metade da população se autodeclara negra ou parda — segundo o IBGE —, mas essa representatividade ainda não se reflete nas estruturas corporativas.

Dados do Instituto Ethos mostram que apenas 4,7% das posições executivas no país são ocupadas por pessoas negras, mesmo elas representando 56% da população brasileira. Essa disparidade revela que o problema não está apenas na contratação, mas também na falta de oportunidades de crescimento e reconhecimento dentro das empresas.

Promover a diversidade e inclusão racial nas empresas vai além do cumprimento de cotas ou da criação de campanhas pontuais. Trata-se de repensar processos, linguagens, culturas organizacionais e critérios de tomada de decisão para construir um ambiente de trabalho realmente equitativo.

Diversidade e inclusão racial nas empresas: uma questão estrutural

A desigualdade racial no mercado de trabalho é fruto de um histórico de exclusão que remonta à escravidão e às políticas de marginalização da população negra no pós-abolição. 

Mesmo após avanços legais e sociais, o racismo estrutural continua impactando o acesso de pessoas negras à educação, ao emprego e a cargos de liderança. Nas empresas, essa desigualdade se manifesta de diferentes formas, veja abaixo:

  • Processos seletivos enviesados, que priorizam perfis brancos e de determinadas universidades;

  • Ambientes pouco acolhedores, onde a pessoa negra precisa constantemente provar sua competência;

  • Falta de representatividade em cargos estratégicos, o que perpetua ciclos de exclusão;

  • Ausência de políticas de inclusão racial, que tornem a diversidade uma prioridade organizacional.

Essas barreiras não se sustentam apenas em atitudes individuais, mas em sistemas institucionais que favorecem alguns grupos em detrimento de outros. Por isso, a inclusão racial nas empresas é também uma questão de justiça social e responsabilidade corporativa.

Os desafios da inclusão racial nas empresas

Apesar dos avanços, ainda há muitos obstáculos a serem superados. Entre os principais desafios estão:

1. Racismo estrutural e institucional

O racismo estrutural está presente nas normas, nos processos e na cultura organizacional. Ele se expressa, por exemplo, na falta de lideranças negras e na pouca abertura para discutir o tema no dia a dia. Combater isso exige reconhecimento, educação e compromisso coletivo.

2. Barreiras no recrutamento e seleção

Muitas empresas ainda utilizam critérios de seleção excludentes, como exigência de idiomas ou experiências internacionais, que não refletem as realidades da maioria das pessoas negras no país. Isso reduz as chances de acesso e reforça desigualdades históricas.

3. Falta de oportunidades de crescimento

Mesmo quando contratadas, pessoas negras enfrentam dificuldades de ascensão profissional, seja pela falta de mentoria, seja por preconceitos inconscientes. Essa barreira invisível é conhecida como “teto de vidro racial”.

4. Linguagem e cultura excludente

A ausência de diversidade nas lideranças e na comunicação interna pode gerar ambientes hostis ou indiferentes. Expressões racistas naturalizadas, piadas e estereótipos reforçam o sentimento de não pertencimento.

5. Ausência de indicadores e metas

Sem dados, não há como avançar. Muitas empresas não mapeiam o recorte racial de suas equipes, o que impede o acompanhamento de resultados e o desenho de estratégias eficazes.

Por que a inclusão racial é estratégica para as empresas

A inclusão racial não é apenas uma pauta social: é uma estratégia de negócio. Empresas que apostam em diversidade racial colhem resultados concretos em inovação, performance e reputação de marca.

Acompanhe os principais benefícios:

Mais inovação e criatividade

Equipes diversas reúnem perspectivas diferentes, o que estimula a inovação. Um estudo da Deloitte aponta que empresas diversas têm 20% mais chances de apresentar resultados criativos e inovadores.

Melhor conexão com o público

Em um país de maioria negra, refletir essa diversidade dentro da empresa fortalece a identificação com clientes e comunidades. A representatividade torna a marca mais autêntica e próxima das pessoas.

Atração e retenção de talentos

As novas gerações valorizam empresas com propósito e compromisso social. Ambientes inclusivos atraem e retêm profissionais engajados, o que impacta diretamente a produtividade e o clima organizacional.

Fortalecimento da marca empregadora

Empresas que promovem equidade racial reforçam sua reputação no mercado e ampliam sua competitividade. Isso se reflete em prêmios, certificações e reconhecimento público.

Gráfico de inclusão racial nas empresas: o panorama atual

Um gráfico de inclusão racial nas empresas, com base em dados do Instituto Ethos e da B3, mostra o abismo que ainda existe. Veja a tabela abaixo dividida por cargos:

Cargo

Pessoas negras (%)

Pessoas brancas (%)

Estagiários/as

49

51

Analistas

36

64

Gerentes

21

79

Diretoria

4,7

95,3


Esses números reforçam que, embora a base esteja se tornando mais diversa, a liderança corporativa ainda é majoritariamente branca. Isso indica que políticas de recrutamento precisam ser acompanhadas de planos de desenvolvimento e sucessão racialmente conscientes.

Política de inclusão racial nas empresas: o que é e como implementar

Uma política de inclusão racial nas empresas consiste em um conjunto estruturado de diretrizes, metas e ações afirmativas para promover equidade racial. Ela deve estar integrada ao plano estratégico e contar com apoio da alta liderança.

Listamos as principais etapas para implementar uma política eficaz, acompanhe:

  1. Diagnóstico da diversidade interna:
    Levantar dados sobre o recorte racial nas diferentes áreas e níveis hierárquicos.

  2. Definição de metas e indicadores:
    Estabelecer metas claras de representatividade e indicadores de acompanhamento.

  3. Revisão de processos seletivos:
    Adotar recrutamento às cegas, parcerias com universidades periféricas e programas de trainee exclusivos para pessoas negras.

  4. Capacitação e letramento racial:
    Promover formações contínuas sobre racismo, vieses inconscientes e história da população negra.

  5. Mentoria e desenvolvimento de carreira:
    Criar programas de mentoria e aceleração para talentos negros.

  6. Comunicação inclusiva:
    Revisar linguagem e materiais institucionais, garantindo representatividade e respeito à diversidade.

  7. Governança e transparência:
    Divulgar resultados, metas e avanços de forma pública e transparente, reforçando o compromisso corporativo.

Exemplos de boas práticas e iniciativas no Brasil

Diversas empresas e organizações têm liderado ações concretas de inclusão racial no ambiente corporativo, mostrando que a mudança é possível.

Pacto pela Equidade Racial

Criado em 2021, o Pacto pela Equidade Racial reúne empresas comprometidas em adotar metas e indicadores de diversidade racial, promovendo um modelo de gestão inclusivo e sustentável. Grandes corporações como Itaú e Ambev já são signatárias.

Índice de Equidade Racial Empresarial

O Índice de Equidade Racial Empresarial (IER) é uma ferramenta que avalia as práticas de inclusão racial nas empresas, medindo avanços e apontando oportunidades de melhoria. O índice serve como referência para políticas de governança antirracista.

Programas de trainee afirmativos

Empresas como Magazine Luiza, Bayer e Vivo criaram programas de trainee exclusivos para pessoas negras, com o objetivo de ampliar a diversidade nas lideranças. Essas ações inspiraram outras organizações a seguirem o mesmo caminho.

Mentorias e redes de apoio

Redes como o AfroHub, o Fundo Baobá e o Mover (Movimento pela Equidade Racial) fortalecem o ecossistema de inclusão, conectando profissionais negros a oportunidades e capacitação.

Primeiros passos para promover a inclusão racial na sua empresa

Para organizações que desejam iniciar ou fortalecer suas ações de equidade racial, alguns passos podem servir de guia:

  1. Reconhecer a urgência do tema:
    Admitir que o racismo é um problema estrutural e que o silêncio o perpetua.

  2. Mapear a realidade interna:
    Levantar dados raciais de forma ética e voluntária, respeitando a LGPD.

  3. Envolver a liderança:
    A mudança começa no topo. Lideranças precisam ser exemplo e porta-vozes da diversidade.

  4. Criar espaços de escuta e diálogo:
    Grupos de afinidade racial ajudam a identificar barreiras e propor soluções.

  5. Estabelecer metas reais e mensuráveis:
    Não basta “ter boa intenção”; é preciso definir objetivos e prazos.

  6. Investir em formação e letramento:
    Promover treinamentos sobre antirracismo e cultura inclusiva é essencial.

  7. Revisar a comunicação institucional:
    Avaliar campanhas, discursos e representações para evitar estereótipos.

  8. Celebrar conquistas e manter a constância:
    A inclusão é um processo contínuo — e não uma ação pontual.

Benefícios de longo prazo da inclusão racial nas empresas

A adoção de políticas de inclusão racial transforma profundamente as empresas e a sociedade. Entre os benefícios de longo prazo estão:

  • Melhoria do clima organizacional, com mais respeito e senso de pertencimento;

  • Aumento da produtividade e da inovação;

  • Maior engajamento dos times e redução de turnover;

  • Fortalecimento da imagem institucional, atraindo talentos diversos;

  • Contribuição para o desenvolvimento sustentável e social, alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU.

Esses impactos reforçam que a inclusão racial é também vantagem competitiva e deve ser tratada como prioridade estratégica.

O papel do RH e da liderança na inclusão racial

O RH é peça central nesse processo, cabe ao setor garantir que as políticas de recrutamento, desenvolvimento e retenção sejam equânimes e inclusivas, considerando recortes de raça, gênero, território e acesso à educação. 

Isso inclui revisar descrições de vagas para eliminar vieses excludentes, ampliar parcerias com instituições periféricas e adotar metodologias de recrutamento às cegas, que priorizam competências em vez de origens sociais.

Além disso, o RH deve acompanhar indicadores de diversidade, promover ações de letramento racial e criar trilhas de desenvolvimento voltadas à ascensão de pessoas negras na liderança.

A liderança, por sua vez, precisa atuar como agente de mudança cultural. Líderes inclusivos escutam, acolhem e dão visibilidade a diferentes vozes, estimulando o diálogo e o respeito. 

Mais do que discursos, a inclusão se traduz em atitudes diárias — na forma de distribuir oportunidades, reconhecer talentos e combater comportamentos discriminatórios. 

Quando o RH e as lideranças caminham juntos, a equidade racial deixa de ser um valor aspiracional e se torna parte do DNA organizacional.

Cultura organizacional e comunicação inclusiva

Promover diversidade e inclusão racial nas empresas também passa por construir uma cultura organizacional antirracista

Isso significa revisar valores, símbolos e comportamentos que moldam o dia a dia da empresa, assegurando que todas as pessoas possam ser quem são, com liberdade e segurança psicológica. 

Uma cultura inclusiva não se limita a discursos inspiradores, mas se manifesta nas práticas, nas decisões e nas relações interpessoais.

Nesse contexto, o papel da comunicação corporativa é essencial. A forma como uma empresa comunica seus valores e se posiciona publicamente influencia a percepção de pertencimento. 

É preciso evitar estereótipos, ampliar a representatividade nas campanhas internas e externas e garantir que pessoas negras estejam presentes não apenas como imagem, mas também como protagonistas das narrativas.

Além disso, adotar uma linguagem inclusiva e consciente fortalece o respeito às identidades e contribui para uma cultura de equidade. Quando comunicação e cultura caminham juntas, a inclusão deixa de ser iniciativa isolada e se torna parte da identidade organizacional.

Inclusão racial é transformação e sustentabilidade

A inclusão racial nas empresas não é apenas uma pauta de responsabilidade social — é um compromisso com o futuro. Um futuro em que talento e potencial não sejam limitados pela cor da pele, mas valorizados pela contribuição individual e coletiva.

Para alcançar esse cenário, as empresas precisam agir com intencionalidade, medir resultados e assumir publicamente seus compromissos. A diversidade não é um destino, mas um caminho contínuo de aprendizado e transformação.

Como mostram as iniciativas do Pacto pela Equidade Racial e do Índice de Equidade Racial Empresarial, é possível conciliar crescimento econômico com justiça social. Empresas diversas são empresas mais fortes, inovadoras e sustentáveis!

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